Autismo: 1 em cada 59 crianças está dentro do transtorno do espectro autista
Mudanças no diagnóstico e aumento da conscientização estão por trás do aumento de casos. Conversamos com o pesquisador Alysson Muotri, uma das maiores autoridades no assunto, para entender melhor as estatísticas
Por Aline Dini – atualizada em 08/05/2018 18h03
Um novo relatório do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CD), dos Estados Unidos, mostrou um aumento de 15% no número de crianças que fazem parte do transtorno do espectro autista (TEA) em relação aos dois anos anteriores. Isso significa 1 caso para cada 59 crianças (estimativas de 2014, divulgadas agora) contra 1 em cada 68 (estimativas de 2012, divulgadas em 2016).
O aumento no número de casos, no entanto, não significa necessariamente que mais pessoas tenham o autismo hoje do que há 50 anos, por exemplo. “Esse é um debate que ainda não temos resposta. Isso porque o conceito de autismo é um alvo em movimento. No passado, apenas considerávamos autistas aqueles bem severos, não verbais, com comportamentos muito estereotipados e totalmente dependentes para viver. Hoje em dia o autista leve está inserido no espectro, então temos o diagnostico de autista em pessoas que são independentes, casados, cursando universidades, o que eleva o número de casos”, disse o pesquisador Alysson Muotri, do Departamento de Pediatria e Medicina Molecular, da Universidade da Califórnia em San Diego, e uma das autoridades no assunto.
A conscientização do quadro clínico, a melhora no diagnostico, a possível ajuda governamental e o aumento do tamanho populacional são outros fatores que fazem o número de autistas subir. Em entrevista à CNN, Daisy Christensen, coautora do novo relatório e líder da equipe de vigilância no ramo de deficiências de desenvolvimento do Centro Nacional de Defeitos Congênitos e Deficiência do Desenvolvimento, falou também sobre o entendimento em relação à prevalência do autismo por raça e etnia. “Não temos nenhuma razão biológica para pensar que a prevalência do autismo varia por raça ou etnia”, disse a pesquisadora, contrapondo a ideia de que crianças negras e hispânicas têm menos probabilidade de serem identificadas do que crianças brancas. Enquanto, em 2012, a prevalência era cerca de 20% maior em crianças brancas do que em negras, atualmente esse número é apenas 10% maior, afirma Christensen.
Sobre o que esperar para o futuro, em relação aos dados do autismo, o professor Alysson Muotri diz que tudo irá depender do que chamaremos de autismo nos próximos anos. “Assumindo que o conceito de autismo seja o mesmo de hoje, eu acho que essa estatística deverá permanecer em aproximadamente 1% da população”, diz
Sinais do autismo
Apesar de os sinais para o transtorno ficarem mais nítidos após os 3 anos, alguns indicativos desde bebê podem servir como alerta, como a criança ficar parada no berço, sem reagir aos estímulos, e evitar o contato visual com os pais. Antes do primeiro ano de vida, está sempre irritada – você o amamenta ou conversa com ela, mas continua agitada. Por volta dos 8 meses, o bebê não interage com o meio ambiente: vê um cachorro ou gato na rua e fica indiferente. Sabe aquela brincadeira em que a mãe se esconde e diz “achou!”? O bebê não esboça nenhuma reação. Na hora de brincar é comum que crianças com o TEA se interessem apenas por uma parte do brinquedo – elas podem ficar girando a roda de um carrinho por um tempo prolongado, em vez de arrastá-lo. Há casos, ainda, em que há regressão: a criança se desenvolve bem até 1 ano e meio. Depois dessa idade, para de sorrir ou de se comunicar, por exemplo.
Causa e diagnóstico
A grande contribuição causal do autismo é o fator genetico. “Mas fatores externos ou ambientais também podem contribuir. Esses fatores atuam durante o desenvolvimento uterino, por exemplo, quando uma grávida sofre algum tipo de infecção ou ingere medicamentos para controle de epilepsia. A ciência tem descartado diversos fatores ambientais fora desse contexto, como vacinas, poluição, etc”, afirmou Alysson Muotri.
Não há um exame específico que indique o transtorno – a avaliação deve ser clínica e feita por uma equipe multidisciplinar, formada por psicólogo, terapeuta ocupacional e fonoaudiólogo. Por isso, mediante qualquer desconfiança sobre desenvolvimento do seu filho, procure um especialista. “Quanto mais precoce começar as intervenções, melhor o prognóstico. É importante procurar as terapias adequadas o quanto antes, porque o sistema nervoso poderá responder aos estímulos rapidamente”, explica o neurologista infantil Antônio Carlos de Faria, do Hospital Pequeno Príncipe (PR).
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